terça-feira, 2 de abril de 2013

A falta de cuidado com nossos pastores

No último fim-de-semana faleceu o Pr. Eurico Silva, pastor da Igreja do Nazareno de Amparo. Um homem que há anos está na igreja com sua família, servindo a Deus com seu ministério pastoral e também de louvor.

Diga-se de passagem o amado pastor tinha uma voz muito original, de tom aveludado, sem perder a força que o timbre que um cantor negro tem. As ministrações do pastor eram marcadas pela entrega total ao momento de adoração. As músicas gravadas nos seus CDs expressavam um comprometimento com o que ele pensava. Hinos tradicionais e versões de músicas clássicas da igreja eram o ponto forte do pastor. Quem não se lembra de "Quando Jesus Estendeu A Sua Mão Para Mim", música de Mattos Nascimento, que o pastor Eurico interpretava com uma lucidez e suavidade inesquecíveis? Era realmente emocionante de se ouvir. (ouça um pouco nesse vídeo, "Há muita gente" http://www.youtube.com/watch?v=LZM0sBh9Hb8).

Infelizmente o pastor faleceu por conta de complicações respiratórias. Uma embolia pulmonar se agravou no sábado, dia 30 de março, véspera do domingo de Páscoa. O Rev. Humberto comentou entre os que estavam no hospital de Amparo que, a falta de espaço na UTI e de médico no local, resultaram no falecimento do pastor. Havia também problemas de saúde enfrentados pelo pastor que complicaram o quadro.

O ponto que quero discutir em meio a esse momento de tristeza, é a falta de tato e cuidado com os ministros da nossa igreja. Sei que parte da culpa disso é o esfriamento do amor pela obra, pela igreja, que os membros passam atualmente. São raros os exemplos de igrejas que apóiam o pastor através da junta ou até mesmo de iniciativas próprias, no sentido de prover suporte para as necessidades da família pastoral. Posso contar nos dedos, pelo meu pequeno conhecimento, igrejas que oferecem benefícios que vão além do salário, que é digno da vocação de um pastor.


Sei, como ninguém, das dificuldades de orçamento que algumas igrejas passam, dos apertos e que, em certas circunstâncias, os pastores são obrigados a assumir uma tarefa secundária ao pastoreado, para poder manter suas famílias. Sei também que, em algumas igrejas, às vezes isso não é entendido direito, pois alguns acham que o pastor devia dedicar seu tempo integralmente à função, mas não colaboram com o dízimo, ofertas ou algum outro tipo de caridade com a igreja. Esses são os hipócritas que existem no meio do trigo, e isso é bem claro hoje em dia nas igrejas. Mas não é o foco da minha narrativa.

O que não é admissível, é aceitar que, por conta disso, os pastores devem suportar essa carga sozinhos, sem um auxílio ou cobertura da liderança da igreja. Afinal, conforme a estrutura da Igreja do Nazareno, os distritos servem para auxiliar os pastores em seus ministérios. Segundo o manual, na versão de 2009-2013, o distrito nada mais é que "uma entidade formada por igrejas locais organizadas e interdependentes, para facilitar a missão de cada igreja local através do apoio mútuo, colaboração e partilha de recursos" (Cáp II, pág. 91, A.200).

O que vemos, infelizmente é a falta do apoio mútuo, colaboração e partilha de recursos, em alguns casos. Não quero ser injusto em dizer que há um caos na administração das nossas igrejas, mas afirmo com conhecimento de causa, que os pastores não tem o suporte ideal pra exercer seu ministério com tranquilidade e segurança do amanhã.

Não culpo lideranças específicas. Minha crítica é pra igreja como um todo. Não quero ser imparcial e deixar de citar que certos feitos tem beneficiado e auxiliado os pastores, como cesta-básica e o desconto conseguido nos planos de saúde. Mas é suficiente para garantir a tranquilidade numa família pastoral?

No caso do pastor Eurico, que não tinha o plano de saúde, mesmo com o benefício conseguido pelo distrito, se o mesmo fosse pago pela igreja local ou até mesmo pelo distrito, será que o pastor teria chegado a esse ponto? Será que se, de fato, nossas igrejas e nossos distritos tivessem mais zelo pelos pastores não haveriam menos problemas emocionais e de saúde como constatamos hoje? Será que se o distrito fosse mais solidário com igrejas que precisam de suporte financeiro e até organizacional, não teríamos igrejas mais fortes e um distrito mais compacto e firme? Esse é um exemplo recente de dúvidas que tenho, já que o fato é recente, mas e os acontecimentos, não menos graves e importantes, com outros pastores?

Não sei se lançar essas dúvidas irá causar alguma comoção na nossa liderança e nas igrejas locais. Não sei se estou sendo injusto ou até mesmo muito superficial na crítica. Mas o que sei é que nossos ministros precisam urgentemente receber um tato pessoal mais apurado.

Clamo aos nossos líderes pra que haja uma exortação às igrejas locais pra que cuidem de seus pastores de forma como rege o manual, e que os tratem com o devido respeito e dignidade que merecem. Clamo aos nossos distritos para que abram os olhos e façam uma breve análise da forma com que os pastores tem recebido atenção devida de seus líderes.

Enfim, só posso concluir que o trecho que Jesus cita o esfriamento do amor no nosso meio, infelizmente está acontecendo de forma sutil e rápida. "E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará", Mateus 24:12. É profecia de Cristo, é triste fato nos nossos dias. Queremos fazer parte daqueles que estão no próximo versículo, "Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo", Mateus 24:13.



Fica aqui minha sincera homenagem e condolências à família. Que recebam todo o apoio necessário da igreja e do distrito.


Que Deus conforte o coração e dê a certeza de que o pastor descansa em paz, agora, nos céus.